O empresário que perdeu US$ 1,8 bilhão quase da noite para o dia

14/03/2020 | 12:44

Como você se sentiria se perdesse mais de US$ 1,8 bilhão (R$ 8,4 bilhões) quase da noite para o dia?

Essa foi a situação que Andrew Rickman enfrentou no final de 2000, quando a chamada bolha da internet estourou, levando as ações da empresa dele, a Bookham Technology, a uma verdadeira queda livre.

“Foi como um inverno nuclear”, lembra ele.

Andrew deu início à Bookham em 1988, na cozinha da casa dele, em Wiltshire (Inglaterra), quando tinha 28 anos. A empresa se tornou um dos principais fornecedores mundiais de componentes ópticos para as indústrias de telecomunicações e computadores. Essa tecnologia permitiu a transferência rápida de dados, usando lasers e fibras de vidro.

No final dos anos 90, suas vendas estavam crescendo muito, à medida que mais e mais residências e empresas estavam sendo conectadas à Internet e redes de telefonia móvel estavam sendo implementadas.

Os bons tempos foram tão bons que, dois meses depois de entrar na Bolsa de Londres, em abril de 2000, a Bookham ingressou no índice FTSE 100. Esta é a lista das 100 empresas com a maior capitalização de mercado — o valor combinado de todas as suas ações.

O aumento do preço das ações da Bookham foi tão grande que Andrew, que tinha a maior participação no negócio, se tornou o primeiro bilionário de tecnologia do Reino Unido. Isso deixou os jornais tabloides britânicos em um frenesi, e o modesto homem de 40 anos, de fala mansa, virou subitamente uma celebridade.

Os tabloides divulgaram aos seus leitores que ele era mais rico que a rainha Elizabeth 2ª e Paul McCartney juntos. Lembrando daquela época, ele diz que ficou “envergonhado” com toda a cobertura.

No auge do preço das ações da Bookham, no meio de 2000, Andrew tinha patrimônio equivalente a mais de US$ 1,8 bilhão (R$ 8,4 bilhões). Depois, a bolha da internet estourou e, antes do final do ano, o preço das ações da Bookham — e a riqueza de Andrew — entraram em colapso.

Isso o levou de volta aos jornais, que agora relatavam sua queda.

“Não pensei muito em toda a cobertura da imprensa”, diz Andrew, agora com 59 anos. “O dinheiro não era um problema, porque estava apenas no papel. Ser o primeiro bilionário das empresas ponto com não era uma realidade para mim.”

“O que foi difícil de lidar, como ser humano, foi a enorme mudança de circunstâncias para a empresa e para nossa tecnologia. Foi emocionalmente difícil de lidar por diferentes razões.”

O grande problema para a Bookham era que seu equipamento óptico de ponta era caro. E depois que a bolha da internet estourou, seus clientes (as empresas que construíram todas as novas redes) passaram a usar uma tecnologia mais barata e mais simples.

Mas antes que você sinta pena de Andrew, ele ainda tinha cerca de 50 milhões de libras (R$ 300 milhões) em sua conta bancária e conseguiu reconstruir a Bookham aos poucos. Isso envolveu a saída da Bolsa de valores e a mudança da empresa para o Vale do Silício, nos EUA, para contornar o alto preço da libra esterlina e ficar mais próximo dos principais clientes.

Andrew deixou o negócio em 2004 para iniciar uma nova carreira como investidor em tecnologia. Em 2013, ele iniciou seu mais recente negócio, a Rockley Photonics.

Sediada em Oxford, com uma força de trabalho de 150 pessoas, a nova empresa projeta um produto chamado chips fotônicos de silício. São como microchips padrão, mas com uma diferença importante: eles emitem luz ao redor do chip em vez de enviar uma corrente eletrônica.

Embora a indústria de chips fotônicos ainda esteja engatinhando, a vantagem é que eles podem processar muito mais dados, mais rapidamente. Agora, os chips fotônicos estão sendo cada vez mais usados ​​em tudo — de data centers a sistemas de sensores em carros autônomos e nos mais recentes telefones celulares.

Andrew diz que Rockley agora tem um faturamento anual na casa das “dezenas de milhões” de libras, mas com o potencial de aumentar isso para bilhões.

O jornalista de eletrônica Peter Clarke diz que Andrew “faz parte de um grupo de visionários de engenharia do Reino Unido que também carregam o gene empreendedor”.

“Rickman é inteligente, de maneira intensa e acadêmica, e uma boa propaganda para o sistema de ensino superior do Reino Unido (ele foi educado no Imperial College de Londres e na Universidade de Surrey).”

Olhando para a época da bolha da internet, Andrew hoje acredita que deveria ter previsto o que ocorreria?

“Eu não acho que muitas pessoas estavam preparadas para esse tipo de explosão de bolhas, elas nunca parecem estar”, disse.

Ele lembra que a empresa foi uma das poucas da região a sobreviverem.

“Uma coisa que aprendi na época era estar atento para uma visão mais analítica do mundo ao nosso redor. Então, a partir desse momento, sempre tive o que descrevo como uma equipe de análise. Eles basicamente analisam o ambiente o tempo todo, são um monitor sísmico sensível. E não estou apenas procurando os desastres que estão por vir, estou procurando as coisas que vão explodir (no bom sentido).”